2016/ Óleo s/ tela s/ mdf/ 48x68 cm
Victor Silva Barros expõe, na Galeria Vieira Portuense, de 11 de Maio a 1 de Junho de 2019. A inauguração está prevista para as 16horas do dia 11 de Maio de 2019.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Currículo - Victor Silva Barros
Victor Silva Barros
Expõe regularmente desde l968, em Portugal e no estrangeiro, estando representado em colecções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Brasil, Holanda, Suíça, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos e Rússia. Na Guiné-Bissau, Maternidade do Cachéu, encontra-se uma escultura em bronze e painel de azulejo de grandes dimensões da sua autoria.
Individualmente apresentou mostras nos Museus de Ovar, Albano Sardoeira –Amarante, Martins Sarmento - Guimarães, Biscaínhos - Braga, Municipal Ramón Maria Aller - Lalin - Galiza, nas galerias Picasso e l990 d.c. - Viana do Castelo, Árvore, Primeiro de Janeiro, Unesco, Vieira Portuense - Porto, Capitel - Leiria, Primeiro de Janeiro, Almedina - Coimbra, Horizonte - Figueira da Foz, Municipal e Convés - Aveiro, Turismo - Caminha, Ponte de Lima, Chaves, Caldelas, Casa da Cultura Fafe, Ourense (Galiza) Diputación Provincial, Lugo(Galiza), Caja de Ahorros e Androx, Vigo (Galiza), Instituto da Juventude - Viana do Castelo, e.t.c..
Em 1991, o Museu dos Biscaínhos de Braga dedica-lhe uma retrospectiva da obra dos anos 80.
Colectivamente participa em exposições em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro, Vila Nova de Famalicão, Ibiza, Bilbao, Burgos, Vigo, Santander, Vallodolid, Madrid, Monte Carlo, Tókio, Okinawa, Nara, Fukuoka, Langeac, Brioude, Rion, Puy-en-Velay, Saint Julien Chapteuil, Paris, Quebec … salientando-se:
“Inaugural Exhibition of the Japan International Artists Society - Art Museum, ToKio Yamakataya Department Store - Okinawa, Perfectural Museum - Nara, FuKuoka Perfectural Culture Hall - Fukuoka, “ XV e XVII Grand Prix International d`Art Con-temporai ”- Monte Carlo, “Biennale Internacional Quebec/France, Galerie Anima G - Quebec, “Ibizagrafic `74”, Museo de Arte Contemporâneo de Ibiza,“Arteder`82”,Feira Internacional de Muestras de Bilbao, Galeria Arlazón, Burgos, Galeria Millares, Ma-drid, Salão dos Independentes, Paris, “Exposition International de Paris”, Galerie de Nesle, Paris , “IX Hall aux Toiles”, Mairie du VI Arrondissement, Paris, “Victor Silva Barros/Álvaro Domingues/Cristien Léo”, Galerie du Licorne Hotel, Puy-en-Velay, “I e II Exposições Colectivas da Árvore” Cooperativa Árvore, Porto, “Arte ao Ar Livre”, Aveiro, “Biennale Internayional d`Auvergne”, Chatel-Guion,“Arte Novo -Años 90”, Centro Cultural Galileo, Madrid, “Inter-Artes” 93 e 94 ,Vila Nova de Famalicão,“II Prémio de Pintura Eixo Atlântico”, Casa das Artes, Vigo (itenerante Portugal/Galiza)…
Sobre a sua obra escreveram em particular João Duarte, pe. Mário de Oliveira, Sérgio Mourão, Carmen Osório, Manuel Álvrez Prieto, Teresa Almeida d`Eça, Mário Emílio, José Rosa de Araújo, J. Callabuig Prado, Jean-Claude Tayeda e Manuel Bontempo.
Entre 1968 e 1977 colabora em vários jornais nacionais com contos, poesia, textos teóricos e de crítica de arte:” República“, “Página Um”, ”Diário de Coimbra”. Integrou os Colectivos “Androx” autores galegos ) e “ 1990 d.c (artistas francos/galaico/portugueses), tendo sido igualmente co-fundador e director técnico das Galerias “Picasso” e “ 1990 d.c. “, Viana do Castelo, e integrado o júri internacional da “Trienal Latina “ (Viana do Castelo 1992 e Puy-en-Velay 1993 ).
Em 1988 publicou “On Road”, colecção de textos de sua autoria inseridos em catálogos entre 1969 e 1988.
Individualmente apresentou mostras nos Museus de Ovar, Albano Sardoeira –Amarante, Martins Sarmento - Guimarães, Biscaínhos - Braga, Municipal Ramón Maria Aller - Lalin - Galiza, nas galerias Picasso e l990 d.c. - Viana do Castelo, Árvore, Primeiro de Janeiro, Unesco, Vieira Portuense - Porto, Capitel - Leiria, Primeiro de Janeiro, Almedina - Coimbra, Horizonte - Figueira da Foz, Municipal e Convés - Aveiro, Turismo - Caminha, Ponte de Lima, Chaves, Caldelas, Casa da Cultura Fafe, Ourense (Galiza) Diputación Provincial, Lugo(Galiza), Caja de Ahorros e Androx, Vigo (Galiza), Instituto da Juventude - Viana do Castelo, e.t.c..
Em 1991, o Museu dos Biscaínhos de Braga dedica-lhe uma retrospectiva da obra dos anos 80.
Colectivamente participa em exposições em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro, Vila Nova de Famalicão, Ibiza, Bilbao, Burgos, Vigo, Santander, Vallodolid, Madrid, Monte Carlo, Tókio, Okinawa, Nara, Fukuoka, Langeac, Brioude, Rion, Puy-en-Velay, Saint Julien Chapteuil, Paris, Quebec … salientando-se:
“Inaugural Exhibition of the Japan International Artists Society - Art Museum, ToKio Yamakataya Department Store - Okinawa, Perfectural Museum - Nara, FuKuoka Perfectural Culture Hall - Fukuoka, “ XV e XVII Grand Prix International d`Art Con-temporai ”- Monte Carlo, “Biennale Internacional Quebec/France, Galerie Anima G - Quebec, “Ibizagrafic `74”, Museo de Arte Contemporâneo de Ibiza,“Arteder`82”,Feira Internacional de Muestras de Bilbao, Galeria Arlazón, Burgos, Galeria Millares, Ma-drid, Salão dos Independentes, Paris, “Exposition International de Paris”, Galerie de Nesle, Paris , “IX Hall aux Toiles”, Mairie du VI Arrondissement, Paris, “Victor Silva Barros/Álvaro Domingues/Cristien Léo”, Galerie du Licorne Hotel, Puy-en-Velay, “I e II Exposições Colectivas da Árvore” Cooperativa Árvore, Porto, “Arte ao Ar Livre”, Aveiro, “Biennale Internayional d`Auvergne”, Chatel-Guion,“Arte Novo -Años 90”, Centro Cultural Galileo, Madrid, “Inter-Artes” 93 e 94 ,Vila Nova de Famalicão,“II Prémio de Pintura Eixo Atlântico”, Casa das Artes, Vigo (itenerante Portugal/Galiza)…
Sobre a sua obra escreveram em particular João Duarte, pe. Mário de Oliveira, Sérgio Mourão, Carmen Osório, Manuel Álvrez Prieto, Teresa Almeida d`Eça, Mário Emílio, José Rosa de Araújo, J. Callabuig Prado, Jean-Claude Tayeda e Manuel Bontempo.
Entre 1968 e 1977 colabora em vários jornais nacionais com contos, poesia, textos teóricos e de crítica de arte:” República“, “Página Um”, ”Diário de Coimbra”. Integrou os Colectivos “Androx” autores galegos ) e “ 1990 d.c (artistas francos/galaico/portugueses), tendo sido igualmente co-fundador e director técnico das Galerias “Picasso” e “ 1990 d.c. “, Viana do Castelo, e integrado o júri internacional da “Trienal Latina “ (Viana do Castelo 1992 e Puy-en-Velay 1993 ).
Em 1988 publicou “On Road”, colecção de textos de sua autoria inseridos em catálogos entre 1969 e 1988.
Texto e Cartaz - Exposição Galeria Vieira Portuense 2012
Fazem
Bocências a fineza de desculpar a mal alinhavada prosa - fossem outros
os
tempos e havia de esmerar o florilégio, aguçar a pena e o engenho (que pou-
co
seja, o labor ajuda).
Só
que
do fundo da gruta de eremita ou cela de
monge medieval ou espaço de solidão
sòmente,
olho os escombros da civilização
e pesam-me nos ombros (os meus anos, as minhas desilusões? ) as
vozes de todos os mortos pelos direitos dos
outros, a felicidade dos outros - que
silênciam
os canalhas - os séculos de libertação desfeitos numa década para que a
escravatura
tecnológica do fascismo financeiro se instale (provavelmente sem que
sequer
saiba no fundo bem para quê, talvez só porque sim, porque pode).
À
volta, os senhores das comissões liquidatárias (dos países, da liberdade, da
huma-
nidade),
nem governantes, nem imbecis, nem,
apenas
pobres de espírito catando as migalhas que lhes atiram antes de os despeja-
rem
no caixote do lixo onde afinal sempre estiveram sem saber, quando acabarem
o
serviço que lhes encomendaram
nem
traidores, nem ao menos salafrários, apenas cria-
dos
nem sabendo ao certo de quem.
À
volta as vozes do dono dos media, os defensores dos direitos, as
associações de
caridade,
as fundações, a democrática escolha entre A e A, a
- que o resto do alfabeto se
refere a terroristas, anar-
quistas,
sindicalistas, desgraçados, desempregados, gentuça individada, jovens sem
futuro,
velhos sem presente, pretos, amarelos,
azuis às riscas ( bons para servir de
alvo
às bombas dos drones da civilização ). E bolas para a educação, a saúde,
a dig-
nidade.
(Já, sei: “toda
a palafrenária do populismo”.) - mesmo assim:
À
volta…
Era
uma vez um país que não era, numa europa que não era, num mundo que não
era.
Ganiam os cães, corriam os polícias apetecendo-lhe estar em casa mas baten-
do
na populaça, que era o que sabiam e lhes tinham mandado fazer. As prostitutas
batiam
a estrada, a banca engordava, os pobres alimentavam os ricos como lhes
competia,
o exército levava a paz à força às
terras do fim do mundo, que nem sa-
biam
onde ficavam…
eram todos
felizes e comiam perdizes
Até
que.
----------------------------
Enfim,
insignificâncias só significantes na situação do olhar.
A
verdade é que não sou eremita sonhando paraísos, nem monge medieval cantando
hossanas
e pintando iluminuras, não tenho uma gruta ou cela de convento de muros
seguros
onde me abrigar dos ventos de iniquidade que sopram.
Talvez nem a so-
lidão
de onde olhe estes escombros da civilização, nem afinal o peso dos anos ou as
desilusões:
mas nos ombros
pesam-me, isso sim, as vozes de todos os mortos
pelos
direitos dos outros, a felicidade dos outros e que a canalha quer silenciar.
E si-
lenciaria
se pudesse para que todos ficassem nivelados à altura da sua (quê?)
O
problema é que no fundo, como se diz pelas
ruas, 99% são 99%, as palavras, as
tintas,
as músicas, não são todas dos bobos da côrte.
E há
uma coisa a que se chama REVOLTA.
OS REENCONTROS QUOTIDIANOS
100x61cm/ óleo sobre tela/ 2004
Impossível
Impossível cantar-te
como cantei o amor adolescente
colorindo de ingenuidade
paisagens e figuras reduzindo-o
à mesma atmosfera rarefeita
do sonho sem percurso no real
Impossível tomar o íngreme caminho
da aventura mental
ou imaginar-te pelo fio estéril
da solitária imaginação
Tão-pouco desenhar-te como estrela
neste céu infame
dizer-te em linguagem de jornal
ou levar-te à emoção dos outros
pela voz contrafeita da poesia
Impossível
Impossível não tentar dizer-te
com as poucas palavras que nos ficam
da usura dos dias
do grotesco discurso que escutamos
proferimos
transidos de sonho no ramal do tempo
onde estamos como ervas
pedrinhas
coisas perfeitamente inúteis
pequenas conversas de ferrugem de musgo
queixas
questiúnculas
arrotos comoventes
Alexandre O'Neill
Textos de Catálogos
Felizmente somos gente que sim, Senhora, todos bem muito obrigado, e por lá? Directos às coisas, sempre em dia através das melhores revistas e dos mais conceituados jornais, com a claríssima visão a preto e branco – ou nas autênticas cores naturais, o que vem a dar no mesmo – em reprodução reproduzida de reprodução, segundo as mais perfeitas e modernas técnicas:
e então é ver-nos, se em quinze dias corremos dezoito cidades e duzentos museus variados, prontos a servir, dois mil cabarés e a perfeita procissão de metropolitano, de sorriso nas fuças para o passante…
mas, íamos aí, somos gente em dia: ainda a última moda, a penúltima (ou a de há cinquenta anos!) não rebentou bem, já nós, catrapuz! Aí estamos – a mudá-la, virá-la, originalizá-la, que nesta coisa de seguidismo não somos tipos para menos.
Olhamo-nos ao espelho, encontramos aquela imagem difusa que é privilégio dos nossos olhos embasbacados modificarem em nitidez e requinte – apanágio do Pensamento português desde Afonso Henriques, ou, sabe-se lá, Viriato – e aí vamos de velas soltas:
é «retro» que diz a gazeta? não ficamos por aí, sai retrosaria, «abstracto»? sai borrão em abundância e montes de esquemas, que nisto somos como os melhores de lá de fora e temos mais a tradição;
e mais todos os «istas» de agora e sempre:
surrealistas coniventes com todos os poderes, à procura de lugar na história da sua rua, impressionistas serôdios, realistas de faca e alguidar, e os outros – os das procissões de defuntos, das paisagens de bilhete postal e cachos de uva sem bicho, do desenho: de fossa séptica pintado às cores a vinte paus a hora, e floristas de água de lavar pratos, interventores de sala alcatifada, mestres de obras coloridos de rosa deslavado e verde desgraçadinho, actores de quinta, boémios de recolher obrigatório, libertinos de papel selado e revista pornográfica, libertários de farda e número nacional, senhores de gravata, burocratas da especulação, e mais todos os saudosistas, todos os oportunistas de todas as oportunidades, arrivistas, num estendal de esperteza saloia e mediocridade…:
construímos um país de estilhaços recortados de jornal na guerra dos outuros. Se é para acomodar, que maravilha, a tibieza mascarada por altos-brados, a impotência com monumentos nas praças públicas e apoio oficial, mestres de roda de café ou monte de sucata: mestres de banalidades e da falência, que, valha-nos deus, nisto é outra coisa que somos fortes.
É claro que somos acima de tudo um país de poetas – e ainda havemos de os ter formados pela universidade católica de Aljustrel, com canudo e tudo, e é muito bem feito – país de poetas aos quinze anos, como qualquer outro, assim se fica nessa poética lamechas e lambida, nem sentado (de cócoras) à espera da noticia do amanuense da critica, ou dos outros, conforme a sorte (ou o azar) nos «obriga» à «província de que nunca queremos assumir a autênti cidade criativa, ou nessa grande capital de nível europeu!, mundial!, com as suas quinhentas almas e um milhão de idiotas à espera nas bichas:
Que críticos também os há internacionalizados, pedantemente sentados num álbum de recortes, trinta e duas palavras-chave para a cabala de cada qual, mais a enciclopédia da verbo, ou, viva o luxo, as edições em fascículos do Brasil, o larousse ilustrado, mais quatro conferências nas estranja a aprender (e bem!) como se faz a coisa:
começa-se por cartões de visita – uma centena é um bom número e sai mais barato – continua-se em artiguinho de jornalzinho, acaba-se nos grandes meios, diz-se «mass media», que, também ao mais alto nível internacional, são o caixote do lixo de todo o mau cheiro e etc.. Bate-se junto com duas lojas de retalho, também em óptimas mãos e com as cabeças coroadas nos nimbos dos eleitos, trinta gajos pedinchantes e dois ou três assim que tal coisa, um toquezinho de corrupção oficial a enfeitar, e está feito:
esferográfica de carga reforçada, uma resma de papel, o chorrilho ininterrupto por entre altares de incenso rançoso e capelas escalavradas pelo mau tempo: a obra de uma vida, nas cadeias do alambazamento mútuo, enquanto não vêm as áreas de repouso com lindo arvoredo e regatos e anjos a tocar pífaro, que é onde, diz-se, acabam os pobres de espírito.
E que toquem os sinos, já é uma grande coisa. Terra de retalhos de pano de estopa, letras e trinta dias com juros por fora, relógio de contrabando no prego, não teremos o que merecemos, mas merecemos o que temos: política de fotocópia ronceira, cultura de reader’s digest, os restos da inquisição embrulhados em papel de estanho para não se lhe notar a podridão, o chato do Camões e todos os outros chatos que lhe seguiram as pegadas louvaminhas da epopeia, povo à procura por toda a parte (até que lhe caia na cabeça), menos no fundo da terra, daquilo que não é seu mas devia. –
- Para além disso, moscas, que são úteis ao equilíbrio, mas dá gozo que se farta espalmar na parede quando chateiam demais.
Resta a consolução de, no meio da rebaldaria nacional – e mais além – haver ainda espaço para algumas formas de gozo, por falta de funcionamento da organização que nos porá, carimbadinhos de números iguais, a par do mundo – (que nós, tipos de cultura superior, não queremos nada com selvagens e outros brutos.
«eu gosto muito da minha terra, a minha terra tem o sol a andar à volta. no verão há turistas e neste a guerra no Líbano, ciclistas, centrais nucleares para poupar velas. maus que põem bombas e bons que põem polícias.
E até, imagine-se, Russos e Americanos para além de pretos e brancos e mil milhões de chineses.
os índios, os lobos e as ervas, esses é que estão a acabar».
1982 – in catálogo exposição – ETC – Museu Municipal de Caminha
Coze-se a massa em água temperada com sal e depois escorre-se. Coloca-se num prato de serviço, às bolinhas, e ao centro põe-se o atum. Cobre-se com maionese e enfeita-se com tirinhas de pimentos morrones, azeitonas e flor de laranjeira.
É evidente que este princípio já fora enunciado em 1946 no catálogo da Philips França. P. III (autor anónimo), quando se afirmava: «Por exemplo, na rubrica «BALLET», que vem na secção clássica, podem encontrar, no lugar alfabética da palavra ballet, a lista de todos os nossos discos de música ballet.» (1)
Ainda assim não se podem negar as variantes fundamentais entre o primeiro sistema e o actual, mais rico em síntese, mais elaborado na dialéctica presumida entre o ser e o não ser – a obra e a ausência de obra. Evidentemente que a ausência de obra é imensamente mais rica em potencialidades (2), ainda que menos actuante a nível do sensível, esteticamente definido pelo cromatismo evidente nas tirinhas de pimentos morrones e azeitonas.
Não deixou a crítica especializada, com a visão brilhante e aguda que a caracteriza e se lhe reconhece, de ligar ainda a componente filosófica materialista (massa temperada de sal) contraposta ao idealismo aristotélico-tomista claramente assimilado à jesuítica e inquisitorial flor de laranjeira.
Obviamente, dir-me-ão, todo o artista é um suspeito (ainda que alguns sejam apenas suspeitos de ser artistas, e em todo a caso a isso teria que responder (valendo-me de inatacáveis autoridades) «esses excêntricos são ajustáveis». (3)
Em todo o caso, penso que todo o pensamento genial deve ser deixado escrito, para auxílio da humanidade e glória da nação a que pertence o seu autor. Não podia assim, em boa fé, eximir-me a exprimir o meu – ainda que a sua publicação surja demasiado tardia para que possa ser objecto de seminário em sede competente, integrado na DÉCIMA SÉTIMA como corolário do génio português – tanto mais que esse pensamento é fundamental à compreensão crítica da minha estética.
E tudo o mais de que os meus detractores me acusem – preocupações com o poder do Poder, a fome, a exploração, a revolta e a revolução, a guerra imperialista, a poluição, a incomunicação, a solidão do Homem (e outras baboseiras) – tudo isso é falso, produto de destemperados espíritos mesquinhos:
Toda a minha busca, gira realmente, em torno desta grande questão fundamental: «De onde caíram as bebidas?» (4)
É que não é impunemente que se nasce, nas praias de Portugal.
NOTAS
1 citado por Boris Vian. L’ Automne à Pékin-1956.
2 sobre a riqueza da ausência de obra e suas potencialidades, veja-se, para mais detalhes, a política de subsídios em Portugal: estatal, para-estatal e outros.
3 «A Mecânica na Exposição de 1900», Paris, Dunod ed., tomo 2, p. 204.
4 James Joyce, Gente de Dublin, ed. port. Livros do Brasil, p. 163.
1983-in cat. Exposição - Salão da Cultura - Viana do Castelo
O GUARDIÃO DO SILÊNCIO
90x54,5cm/ óleo sobre tela sobre platex com figura de madeira/ 2004
de manhã triunfal de cidade à solta
os gestos que devemos ter
quando a alegria descobrir os dedos
em que possa viver toda a vertigem
que trouxer da noite
os primeiros dedos do sonho
do teu sonho nosso sonho mantido
mesmo no mais íntimo abandono
mesmo contra as portas que sobre nós:
em silêncio e noite
em venenosa ternura
em murmúrio e rezas
e fecharam já
mesmo contra os dias vorazes
que por todos os lados nos assaltam
e consomem
mesmo contra o descanso eterno
a viagem fácil
com que nos ameaçam vigiando
todo o percurso do nosso sono
interminável sono coração emparedado
no muro cruel da vida
desta que vivemos que morremos
assim esperando
assim sonhando
sonhando mesmo quando o sonho
ignorado recua até ao mais íntimo de cada um de nó
se é o gemido sem boca
a precária luz que nem aos olhos chega
Alexandre O'Neill
Texto
Ninguém cria um futuro,
mas um passado, porque não há nenhum futuro para criar: a cada acção, por todas
as omissões, não caminhamos para alguma, apenas criamos passado.
E
nunca ninguém nos ensina isto. Porque é fácil sermos irresponsáveis por um
futuro que poderemos já nem ter pessoalmente, por um Futuro que não podemos
construir sozinhos; mas sempre seremos responsáveis pelo nosso passado (ao
menos diante do espelho)e a História não existe – o que existe são as nossas
imutáveis histórias juntas, alinhando hipotéticas sínteses colectivas, onde,
quem se interesse, colhe determinados factos, determinantes horas,
indeterminados nomes, para ensinar às crianças e estabelecer as bases de
qualquer poder dominante, actual em seu tempo.
Criar
um futuro, não é sequer uma Utopia, é uma falácia com que nos queremos (ou nos
querem) convencer que é possível mudar todas as coisas imutáveis que fazemos: a
ilusão das religiões e dos poderes para uso de massas, enleadas elas mesmas
nessa teia impossível de iludir: “eu” não tenho um futuro que não seja a morte,
e a morte não se constrói, quando muito acerta-se com ela o nosso relógio
particular; esta sociedade não tem futuro, autofágica e decadente, acabará mais
rapidamente que o Reich dos Mil Anos de Hitler, ou a Heróica Roma, ou o Eterno
Egipto dos Faraós Divinos; este mundo não tem futuro, um dia apaga-se como um
vela ou uma bomba e nada poderemos fazer quanto a isso, Da Vinci ou Chopin,
Cristo ou Marx, acabarão no mesmo lugar de todos os outros homens e mulheres,
apagados em memórias de poeira, nem já grandes pensamentos, nem já pensamentos.
Nem já sonhos.
Mas
entretanto, teremos esse Passado para construir e com que nos confrontamos:
construído segundo a segundo, para que não adiantam desculpas ou protestos de
boas intenções, mas os actos e os gestos; onde não há lugar para esperanças
adiadas mas para a simples prática quotidiana. No passado não há lugar para
bombas nucleares “que nunca serão usadas”: Hiroshima e Nagasaki são crimes
contra a humanidade de um país que se chamou Estados Unidos da América; os
“descobrimentos” uma empresa comercial com marinheiros arrebanhados à força, as
colonizações explorações esclavagistas; as guerras crimes colectivos para
defesa ou expansão de interesses privados: a “História” dos vencedores e
vencidos exactamente igual, as mesmas bandeiras, os mesmos heróis, os mesmos
altruísmos, os mesmos criminosos, os mesmos deuses protectores – um espelho,
afinal, não reflecte senão a imagem projectada; os mesmos realmente derrotados.
A mesma Humanidade.
E
só quando nesse passado que tivermos construído não haja já nem fome nem medo,
nem raças de deus e animais falantes de duas patas, cães abandonados e árvores
mortas, chefes iluminados e criminosos por direito divino, quando… só então
poderemos dizer que estávamos (talvez) quase a construir uma Civilização.
Por
acaso, vivemos um hiato em que não construímos nem Passado, nem história nem
nada. Um hiato de anões em bicos de pés, com o ruído do bruábá gritado por
milhares de medíocres, durando os segundos de um noticiário áudio, as horas
duma página de jornal antes de ser deitada para o lixo. É o tempo da realidade
virtual, improvável, isolante, imbecilizante: não olhes em volta – nada existe.
O hiper-consumismo materialista afunda-se no idealismo absoluto mais primário.
Eu não existo, tu não
existes, eles não existem. O nada povoado de pseudo-realidades digitalizadas.
Pseudo-possuidores: de
bens, de deuses, de verdades, de ciências de doenças. Nunca o policiamento foi
mais fácil, videolizados, informaticamente articulados, basta reprogramar o
pensamento no momento certo. Não temos gestos. Votamos segundo sondagens
viciadas, não escolhendo quem queremos ou o que cremos, mas em quem nos
propõem. Não temos sexo por causa do “SIDA”. Não mudamos nada porque vivemos em
“democracia”. Não fugimos porque o mundo é uma aldeia tentacularizada. Não nos
revoltamos já, porque a Revolta é apenas um produto de consumo.
Resta apenas o
silêncio.
Apenas o silêncio é
criativo. Apenas no silêncio, alguém, em algum sítio, cria (talvez) um passado
de dignidade. Porque, se não caminhamos para o futuro e apenas vimos do
passado, que desculpas temos para todos os erros e traições omitidos? Quem
somos, senão nós mesmos? Para onde vamos, se não caminhamos para nenhum desse
Futuro-esperança a que um dia chegaríamos, vivos ou mortos, cantando hossanas?
Que nos resta para lá da responsabilidade de todos os nossos gestos, e que
gestos sejam já?
Alguém terá um dia
Passado?
Hoje, aqui, o silêncio.
Victor Silva
Barros
Julho de 1996
A LIBERDADE VIGIADA
50x60cm/ óleo sobre tela/ 2006
Não digas o teu nome: ele é Esperança
vai até aos que sofrem sozinhos
à margem dos dias
e é a palavra que não escrevem
sobre as quatro paredes do tempo
o admirável silêncio que os defende
ou o sorriso o gesto a lágrima
que deixam nas mãos fiéis
Não digas o teu nome: quem o não sabe
quem não sabe o teu nome de fogo
quem o não viu entrar na sua noite
de pobre animal doente e tomar conta dela
mesmo só pelo espaço de um sonho
O teu nome
até os objectos o sabem
quando nos pedem um uso diferenteo
s objectos tão gastos tão cansados
da circulação absurda a que os obrigam
As coisas também gritam por ti
E as cidades as cidades que morreram
na mesma curva exemplar do tempo
estão hoje em ti são hoje o teu nome
levantam-se contigo na vertigem
das ruas no tumulto das praças
na espera guerrilheira em que perfilas
o teu próprio sono
Alexandre O'Neill
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