quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Texto e Cartaz - Exposição Galeria Vieira Portuense 2012



Fazem Bocências a fineza de desculpar a mal alinhavada prosa - fossem outros
os tempos e havia de esmerar o florilégio, aguçar a pena e o engenho (que pou-
co seja, o labor ajuda).
                                     Só que  

     do fundo da gruta de eremita ou cela de monge medieval ou espaço de solidão
sòmente, olho os escombros da civilização
                    e pesam-me nos ombros  (os meus anos,  as minhas desilusões? ) as
 vozes de todos os mortos pelos direitos dos outros, a felicidade dos outros - que
silênciam os canalhas - os séculos de libertação desfeitos numa década para que a
escravatura tecnológica do fascismo financeiro se instale (provavelmente sem que
sequer saiba no fundo bem para quê, talvez só porque sim, porque pode).

À volta, os senhores das comissões liquidatárias (dos países, da liberdade, da huma-
nidade), nem governantes, nem imbecis, nem,
apenas pobres de espírito catando as migalhas que lhes atiram antes de os despeja-
rem no caixote do lixo onde afinal sempre estiveram sem saber, quando acabarem
o serviço que lhes encomendaram
                                            nem traidores, nem ao menos salafrários, apenas cria-
dos nem sabendo ao certo de quem.

À volta as vozes do dono dos media, os defensores dos direitos, as associações de
caridade, as fundações, a democrática escolha entre A e A, a
                                            -  que o resto do alfabeto se refere a terroristas,  anar-
quistas, sindicalistas, desgraçados, desempregados, gentuça individada, jovens sem
futuro, velhos sem presente,  pretos, amarelos, azuis às riscas ( bons para servir de
alvo às bombas dos drones da civilização ). E bolas para a educação, a saúde, a dig-
nidade.
                                  (Já, sei: “toda a palafrenária do populismo”.) - mesmo assim:

À volta…




Era uma vez um país que não era, numa europa que não era, num mundo que não
era. Ganiam os cães, corriam os polícias apetecendo-lhe estar em casa mas baten-
do na populaça, que era o que sabiam e lhes tinham mandado fazer. As prostitutas
batiam a estrada,  a banca engordava,  os pobres alimentavam os ricos como lhes
competia, o exército levava  a paz à força às terras do fim do mundo, que nem sa-
biam onde ficavam…
                                                                       eram todos felizes e comiam perdizes

Até que.

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Enfim, insignificâncias só significantes na situação do olhar.

A verdade é que não sou eremita sonhando paraísos, nem monge medieval cantando
hossanas e pintando iluminuras, não tenho uma gruta ou cela de convento de muros
seguros onde me abrigar dos ventos de iniquidade que sopram.
                                                                                                      Talvez nem a so-
lidão de onde olhe estes escombros da civilização, nem afinal o peso dos anos ou as
desilusões:
                           mas nos ombros pesam-me, isso sim, as vozes de todos os mortos
pelos direitos dos outros, a felicidade dos outros e que a canalha quer silenciar.
                                                                                                                         E si-
lenciaria se pudesse para que todos ficassem nivelados à altura da sua (quê?)


O problema é que no fundo, como se  diz pelas ruas,  99% são 99%, as palavras, as
tintas, as músicas, não são todas dos bobos da côrte.
E há uma coisa a que se chama REVOLTA.

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